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Shakira aborda as lacunas acadêmicas latino-americanas

Mediaplanet: Você tem feito muito para ajudar milhões de vidas ao redor do globo em várias maneiras e são internacionalmente reconhecidos por seu trabalho humanitário e apoio dado. O que te inspirou inicialmente a tomar tal grande responsabilidade e desenvolver essas poderosas e impactantes iniciativas filantrópicas?

Shakira: Não importa o quão grande seja a ideia, ou quão vasto seja o projeto, tudo começa do mesmo jeito – com um pequeno momento. Para mim, esse momento foi quando minha família passou por uma situação de desnível financeiro e de dificuldades que nunca antes vivenciamos, e isso foi bem difícil de processar durante a juventude. Foi a primeira vez que eu ganhei um senso real de perspectiva. Vi que lá fora havia muitas crianças sofrendo com a extrema pobreza e que não poderiam contar com uma educação que as fizesse melhorar de vida. Mesmo ainda jovem, eu vi que tinha uma profunda percepção de que era injusto que algo tão arbitrário como o lugar onde você nasceu determinasse seu destino para o resto da sua vida. Eu sabia que deveria haver um jeito para equilibrar isso, e meus pais sempre me ensinaram que a educação era a chave. Então, para mim, a solução era simples. Levar educação para todos e assim regularizar a situação. Eu diria que essas duas coisas: o desejo de me tornar financeiramente independente e bem sucedida e o senso de propósito que a infância me deu para realizar algo grande no mundo, guiaram as ambições da minha carreira para esses dias.

MP: Seu foco principal em relação a essas iniciativas parece ser o desenvolvimento primário infantil e a educação universal. Você pode explicar por que você sente que educar a juventude do mundo é o melhor caminho para melhorar sua qualidade de vida?

S:  Educação tem um incrível retorno de investimento. Investir em uma criança o mais cedo possível é, em alguns aspectos, equivalente a comprar uma ação desvalorizada bem no começo de sua oferta pública. O potencial humano e ilimitado; mas não se permanecer inexplorado. É um conceito tão velho como o tempo – como diz o provérbio: “Dê um peixe ao homem e ele o comerá por um dia; ensine-o a pescar e ele nunca mais sentirá fome”. Quanto mais cedo na vida de uma criança fazer com que ela entenda o valor da educação e como isso pode mudar sua vida, mais cedo ela criará hábitos que produzirão efeitos exponenciais.

MP: Você começou na indústria do entretenimento muito nova. Como isso impactou no seu crescimento educacional pessoal?

S: Eu comecei bem cedo, então depois da minha adolescência, minha educação foi menos tradicional. Formei-me no colégio, mas já tinha lançado dois álbuns até aí. Para mim, muito do meu aprendizado foi auto didata e veio do desejo de absorver tudo que me era possível. Viajar pelo mundo provou ser um meio inestimável de aprendizado e fortuitamente meus pais sempre me instigaram o amor por aprender, então eu acho que tirei vantagem de todas as oportunidades para aprender que me foram oferecidas. Fiz vários cursos particulares e frequentei universidades sempre onde e quando eu tinha tempo. Gosto de pensar em mim mesma como uma estudante permanente.

MP: Aprender idiomas é comumente visto como um passo crucial para o sucesso por muitos imigrantes de outros países com língua diferente de sua própria. Como membro da Comissão do Conselho em Excelência Educacional para Latino-americanos da Presidência, o que tem sido feito para ajudar a reduzir ou eliminar disparidades em educação, saúde, e riqueza em toda a população latino-americana nos Estados Unidos?

S: Ser bilíngue é uma vantagem competitiva, e é vital para a América para a nossa crescente geração de latino-americanos aprender inglês fluente e manter sua fluência na língua nativa. Os aprendizes da língua inglesa são a população mais crescente de estudantes, com cerca de 4,7 milhões de alunos nas escolas de ensino infantil e médio pelos Estados Unidos. Uma em cada sete crianças hoje que começam no jardim de infância nesse país tem uma língua-mãe que não seja o inglês. Particularmente, para os estudantes latino-americanos, os quais compõem a maioria da população de aprendizes de inglês – a proficiência limitada do inglês nos primeiros anos é associada com o baixo nível alcançado e outros resultados abaixo do esperado.

Como um membro da Comissão do Conselho em Excelência Educacional para Latino-americanos da Presidência, nós estamos trabalhando muito para potencializar esses resultados. Muitas crianças latino-americanas que entram no jardim de infância já estão atrasadas, então essa é a chave para alcançar essas crianças desde cedo e fechar essa abertura antes que isso prejudique toda sua carreira educacional. Em seu discurso no Estado da União, Presidente Obama prometeu tornar o acesso ao aprendizado de alta qualidade uma realidade para cada criança com quatro anos de idade na América, construindo escolas de tempo integral disponíveis para famílias de baixa renda. Esta é a chave para que grande parte da população latino-americana seja incluída nos parâmetros de “baixa renda”.

Mais concretamente, o orçamento do presidente também investe $1,4 milhões no “Early Head Start-Child Care Partnership Initiative” proposto pelo “Departamento de Saúde e Serviços Humanos” para aumentar os efetivos de cuidados primários e educação para crianças e “Early Childhood Home Visiting Program” para angariar, em longo prazo, $15 milhões em investimentos começando em 2015. Nós acreditamos que colocar essas crianças no caminho certo o mais cedo possível pode aumentar suas chances de sucesso na vida posteriormente.

MP: O que, como nação, podemos fazer coletivamente para avançar na redução da ineficiência entre estudantes hispânicos e não hispânicos nos Estados Unidos?

S: A população hispânica (aproximadamente 54 milhões) constitui o maior e mais expressivo grupo minoritário em ascensão nos Estados Unidos e há uma parcela significativa de famílias latinas, vivendo na ou acima da linha da pobreza. Já sabemos que a pobreza é ligada diretamente a resultados negativos, como evasão escolar, baixo desempenho acadêmico, menores ganhos salariais quando adultos e têm grandes chances de se envolverem em crimes ou relatar más condições de saúde durante toda a vida.

Eu acredito que se deve dar mais atenção à situação da educação do povo latino nos EUA. Por exemplo, Estudantes latino-americanos de 15 anos dos Estados Unidos encontram-se no rank de leitura em 43º lugar e em 44º em ciências, enquanto o rank nacional é de 17º e 23º, respectivamente. Políticas federais deviam ter mais conhecimento sobre essa variação nos resultados educacionais por raça e etnia de todo o país e trabalhar para acabar com tais disparidades.

Estudantes latinos precisam ser potencializados para o sucesso acadêmico, começando no ensino primário. Hoje, menos de 40% das crianças latino-americanas de três a cinco anos de idade são envolvidas em programas de aprendizagem; e somente 13% dos latinos conseguiram uma graduação de bacharelado. É hora de fortalecer nosso compromisso de reduzir a iniquidade expandindo as oportunidades de educação para todos. O sucesso ou insucesso deles terá um grande impacto no futuro em nossa sociedade como um todo.

Como nação, devemos garantir a cada criança um começo de vida saudável e justo e uma passagem bem sucedida para a vida adulta com ajuda às famílias e comunidades. Funcionários eleitos, legisladores, filantropos e organizações sociais devem juntar esforços para reduzir as barreiras sociais e econômicas que crianças latinas enfrentam para se envolver e perseverar na escola. Enquanto crianças latino-americanas são uma grande e crescente população nos EUA, não podemos falhar em equipá-los com uma educação de alta qualidade agora, então eles poderão perseguir seus sonhos em um caminho positivos e contribuir assim em fazer do mundo um lugar melhor. O sucesso ou insucesso deles terá um grande impacto no futuro em nossa sociedade como um todo.

MP: É amplamente sabido que você fala várias línguas por si só. Quais idiomas você fala? Qual foi o desafio para você aprendê-los?

S: Eu falo espanhol, português, inglês e um pouco de francês e italiano. Estou agora pegando um pouco de catalão, porque passo muito tempo em Barcelona. Português era minha segunda língua, mas eu devo dizer que inglês é provavelmente a mais difícil de dominar, e escrever em modo criativo.

MP: Se você não tivesse aprendido vários idiomas, você sente que talvez não tivesse visto o mesmo sucesso que você tem visto até agora?

S: Realmente acho que não. Idiomas abrem as portas para outras culturas de um jeito que nada mais faz, exceto a música. Eles são as duas coisas mais universais que partilhamos como seres humanos, e ambos me permitem conectar-me com pessoas ao redor do mundo de um jeito que eu não acho que nunca havia imaginando como uma garota começando a explorar.

Confira a matéria original, em inglês, no site da Hispanic Heritage News.

 

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