Após adiar sua turnê, a El Dorado World Tour, por sete meses, devido problemas vocais, Shakira finalmente colocou o pé na estrada semana passada, com um show que percorreu os seus mais de 20 anos de carreira.
É a primeira turnê da diva colombiana em sete anos, após passar um tempo ao lado de sua família, com seu parceiro Gerard Piqué e seus filhos Milan e Sasha.
As imagens da noite de abertura da turnê em Hamburgo, Alemanha, mostraram esta mulher de 41 anos estar oprimida, apertando as mãos contra o peito enquanto reconhecia sua longa jornada musical.
“Ano passado foi um dos momentos mais difíceis de toda a minha vida”, ela conta a BBC de Amsterdã. “Estar de volta aos palcos foi tão emocionante”.
Com a turnê chegando a Londres na próxima semana, a diva colombiana reservou um tempo para conversar sobre como ela deixou de ser narcisista e se ela entende a regra do impedimento.
Confira tudo sobre o show de Amsterdam aqui.
Oi Shakira, como vai?
Acabei de acordar, acredita? Meus filhos não estão comigo, então tenho permissão para dormir. Acho que a última vez que dormi tanto foi há seis anos, antes de ter meu primeiro filho.
Como está indo a turnê até agora?
É como se fosse a primeira vez. No passado, minha experiência no palco foi um pouco diferente. Um pouco mais narcisista. Eu estava como “Oh, uau, eles estão aqui por mim, é melhor eu parecer bem e soar bem”.
Mas agora é como “Cara, eu tenho essa incrível oportunidade de fazer a multidão sorrir. Para fazer todas aquelas pessoas, que também tiveram dificuldades em suas próprias vidas, felizes”.
Você teve que adiar a turnê por causa de uma hemorragia vocal. O quanto isso foi ruim?
Na verdade, foi mais do que uma hemorragia. Era como uma lesão vascular. Então você pode imaginar, houve momentos em que eu duvidei que estaria na frente de uma multidão novamente cantando minhas músicas.
Você precisou de cirurgia?
Milagrosamente, e ao contrário de tudo o que os médicos previam, eu me recuperei naturalmente. Todos eles previam cirurgia, mas a lesão desapareceu completamente das minhas cordas vocais.
Isso é realmente um milagre.
Eu lembro de ter rezado. Eu tinha esquecido de rezar por um tempo, mas quando você passa por dificuldades, de repente você recupera a sua fé! Eu estava prometendo a Deus se eu pudesse usar minha voz novamente, eu celebraria todas as noites – e é isso que eu estou fazendo.
Você acaba de lançar um 1single, Clandestino, que é seu terceiro dueto com seu colega colombiano Maluma. O que te faz você retornar para mais?
Eu te juro, nós tentamos não fazer mais novas músicas, mas aconteceu! Nós simplesmente não pudemos evitar.
Ele veio a Barcelona para uma sessão de fotos, então disse a ele: “Escute, por que não nos reunimos no estúdio e vemos o que acontece?” E em menos de duas horas, tivemos duas novas músicas.
Mas esta foi a música. Eu estava como “Oh Deus, é isso! Isso é tão bom quanto Chantaje!”. E essas palavras foram importantes.
Porque Chantaje passou 18 semanas como número 1 na Colômbia, certo?
Exatamente. E ele gostou dos dois bilhões de visualizações no YouTube. Números loucos, loucos e inesperados.
A música latina está ressurgindo. Você acha que está aqui para ficar, ou poderia desaparecer como a explosão latina dos anos 90?
Depende do artista. Eu acho que alguns artistas estão destinados a ficar e alguns vão desaparecer. Isso sempre acontece. É a seleção natural das espécies.
Mas eu não penso nisso como um boom na música latina. Eu acho que o mundo está em um lugar diferente. Mídia social significa que não é apenas o rádio que decide o que será um hit de sucesso. São as pessoas.
Você cantou uma vez “Eu não entendo de futebol” [Inevitable]. Presumivelmente, isso mudou quando você conheceu seu marido?
Um pouco! Eu ainda me confundo com os impedimentos. Acredita? Quase oito anos com Gerard e eu ainda não vejo os problemas muito bem.
Mas do mais, entendo tudo. Às vezes me atrevo a dar minha opinião! Gerard acha isso muito fofo.
Ele está prestes a ir para Rússia para a Copa do Mundo. Você vai ver algum dos jogos?
Estarei em turnê até 13 de julho, então se a Espanha chegar na final, terei oportunidade de ir. Então eles tem que fazer isso!
Ele chegou à final em 2010…
Exatamente! Ele me disse naquele ano: “Escuta, eu vou ganhar essa Copa do Mundo. Vou chegar à final só para poder ver você mais uma vez”. E ele fez isso. Ele é um homem que mantém sua palavra.
No ano passado, a revista Fortune nomeou você como uma das 50 principais líderes do mundo pelo seu trabalho de caridade. Quanto isso foi importante para você?
Eu tenho um enorme compromisso com a educação. É um compromisso que começou quando eu tinha 18 anos e decidi criar a minha própria fundação para construir escolas em lugares remotos na Colômbia. Esse compromisso obviamente vai além de qualquer coisa que apareça em uma revista. É algo que vive e respira no meu coração.
Por que educação em particular?
Eu venho do mundo em desenvolvimento e isso me marcou de muitas maneiras. Eu nasci e cresci em um país onde há uma enorme injustiça social, pobreza e falta de oportunidades. Então, sinto que a educação é o grande agente transformador – a única coisa que pode mudar o destino de tantas crianças que nascem pobres e que, sem a oportunidade de uma educação, provavelmente morreriam pobres.
A única coisa que pode realmente quebrar este ciclo de pobreza e trazer novas oportunidades é a educação. Eu vi isso com meus próprios olhos. Eu vi a transformação em famílias e comunidades inteiras quando você leva uma escola para uma área onde antes não havia nada.
Você se sentou com pessoas como o presidente Obama e o presidente Santos, da Colômbia. Será que eles subestimaram o quanto você está informada sobre estes problemas?
Acho que agora eles estão acostumados comigo! Bono uma vez me ligou e disse que eu sou a mulher mais veemente que ele já conheceu. Eu sou bastante teimosa e toda vez que tenho chance, faço uma ligação para esses líderes mundiais e peço que participem dos projetos.
Quem é mais nervoso nestas reuniões? Eles ou você?
Eu não sei! Realmente não tenho uma resposta para isso. Mas não estou mais nervosa, porque sei exatamente o que preciso nessas reuniões.
Alguns políticos querem apenas uma foto, mas estamos pedindo coisas reais e um compromisso real. É uma enorme responsabilidade pressionar nossos líderes para que façam seu trabalho.
E eles não conseguem a foto a menos que eles entreguem, certo?
Exatamente! Esta é a cenoura.
Eu li que quando você escreveu seu primeiro álbum em inglês [Laundry Service] você estudou as letras de Leonard Cohen e Bob Dylan. Quem você olha agora?
Amo Chris Martin [Coldplay]. Amo suas melodias e sua produção. Ele é um artista com visão, que você não encontra todos os dias. E é por isso que ele durou tanto tempo, ele e sua banda. Eles nunca decepcionam.
E vou te dizer uma coisa: ele foi tão, tão bom ao longo desses meses difíceis. Ele se preocupou muito com a minha voz, ele me checava dia sim dia não.
É ótimo quando amigos passam por uma crise…
Essa é uma das coisas mais agradáveis que eu percebi através da minha dificuldade – o quão importante é ter amigos. E também meus fãs. Eles estavam orando todos os dias na Colômbia. Eles fizeram a missa para mim. Eu tinha grupos de freiras e padres e todo tipo de pessoas orando por minha voz todos os dias. Eu não sabia que era amada assim.
Quando você é um artista, você geralmente sente que as pessoas, de certa forma, usam você. Você está dando a eles o que você quer. Mas eu acho que o relacionamento que construí com meus fãs ao longo dos anos é muito mais profundo do que isso. Isso me faz sentir muito valorizada e amada e é por isso que estou gostando deste novo capítulo da minha vida.
A diva colombiana Shakira se apresentará em Londres, na O2 Arena, no dia 11/junho.
Confira as datas da turnê na América Latina:
Os shows no Brasil estão marcados para o dia 21 de outubro, no Allianz Parque (São Paulo – SP), e no dia 23 de outubro, na Arena do Grêmio (Porto Alegre). Clique aqui para saber os preços dos ingressos dos shows de Shakira em São Paulo e Porto Alegre.